Comecei a trabalhar com 13 anos, eu era um “importante”
office boy do terminal rodoviário de Belo Horizonte. E o salário que era uma mixaria, dava para
pagar o crediário dos tênis e artigos esportivos, que eu comprava nas lojas
Elmo, sim, crediário. Pagava também o lanche lá no colégio Batista, eu estudava
a noite, passava o dia inteiro andando pelas ruas de BH, imaginem o tanto que
eu comia e o que sobrava do meu rico dinheirinho eu ia para o Mineirão e
acreditem, eu ia em todos os jogos.
E como era bom ir ao estádio, lá
eu deixava minhas magoas, frustrações da pré-adolescência, a raiva dos professores
que me davam notas baixas, sempre a culpa eram deles, miseráveis. Numa partida
de futebol eu esquecia as brigas dos meus pais, a raiva do colega que me
chateava, tudo ficava lá no Mineirão e o melhor se transformava em coisas boas,
energia positiva.
Lá o branco, negro, amarelo,
pardo, pobre, rico se misturavam, todos eram iguais e eu provo o que estou
falando. Final da libertadores de 1997, Mineirão lotado. Meu ingresso eu dei
jeito de comprar logo, dormi na fila, fui um dos primeiros a adquirir. Cheguei
cedo ao Gigante da Pampulha, arrumei um lugar bacana, mas minutos antes de
iniciar a decisão, estava tudo lotado, galera espremida.
Bom eu queria ver o jogo, fui
para geral (quem não sabe o que é geral vai no google pesquisar) e lá tinha gente de todo tipo, os famosos “geraldinos” estavam acompanhados,
de mulheres, executivos engravatados, famílias inteiras, uma “mistureba” geral.
Todos unidos pelo mesmo objetivo, ser bicampeão da libertadores, ali não
existiam diferenças, todos eram “chegados”. Tanto que na hora que o Elivelton
balançou as redes, aquele lugar, aquelas milhares de pessoas pareciam ser de
uma mesma família. Todos se abraçavam, alguns choravam, outros sorriam. Uma
união que talvez só o futebol consiga criar.
E graças a Deus eu pude viver
essas várias emoções e pode parecer nostalgia, ou papo populista, mas que dó eu
tenho dessa turma de hoje. O Mineirão, os nossos estádios por esse Brasil a
fora deixaram de ser do povo, o futebol não é mais da galera.
Contem-me como um menor aprendiz,
o que eu seria na época que eu comecei a trabalhar, conseguiria ganhando o que
ganha, comprar tênis, matérias esportivos, lanchar na escola e ainda ir a todos os jogos do seu time de
coração? Sem chance. Digo mais, como um pai de família leva o seu filho, se ele
tiver dois ai que fodeu tudo mesmo, a jogos do seu time de coração com os
valores que são cobrados nos ingressos atualmente, e claro, tem o lanchinho
dentro do estádio que esta caro pacas. Segundo meu cunhado, quando ele levou o meu sobrinho ao jogo ele gastou a
bagatela de 180 reais, não dá! Se ele levar o garoto a 4 jogos são 720 reais, isso
acaba com qualquer orçamento familiar.
Elitizaram o esporte mais democrático
que existia, entupiram de farinha o nosso feijão tropeiro e ainda sumiram com
os ovos, cadê meu sanduba de lombo? Ferraram com os “geraldinos”, aquela família
gigantesca não existe mais.
Em contra partida as concessionárias dos estádios se entopem de dinheiro, já os clubes, nem tanto. E pior as nossas crianças estão com mais
neuroses, termos que alguns anos atrás eu acharia que era alguma gripe, ou até
uma roupa, tipo bullying, não existiam, nós resolvíamos as nossas diferenças e
quando não dava nós as descarregávamos nos estádios, xingando, comemorando,
vibrando, dando um abraço no “brother” do lado, mandando os nossos adversários, somente no campo, claro, para a PQP. Os pais se divertiam com seus
filhos, relaxavam com aquela cervejinha, aquele cidadão que estava frustrado,
nervoso e de saco cheio de suas tarefas diárias, deixava ali no Mineirão, todas
as frustrações, suas decepções e aposto que quando chegava em casa estava
renovado e feliz. Dava um longo abraço em sua esposa, fazia um carinho no filho,
ou irmão, ou nos pais e ia dormir mais leve. O Mineirão amigo era uma baita
terapia e custava apenas 20 reais, para alguns era ainda mais baratinho, apenas
5 reais.
Excelente texto. Compartilho das mesmas opiniões e sinto saudade de ver aquela galera lá em baixo que corria e pulava o jogo todo, de um lado para o outro independente do placar da partida. Aquilo era felicidade pelo simples fato de estar ali. O futebol se elitizou, virou as costas para aqueles que o fizeram o maior espetáculo da terra. Perdeu com isso muito de seu charme e também perdem a vibração de uma torcida que não parava. Hoje é a turma do "Senta,Senta!" que frequenta o Mineirão. Uma pena!
ResponderExcluirTexto bacana velho, eu também sou dessa época e conseguia acompanhar os jogos do meu time... hoje está impossível fazer isso.
ResponderExcluirRapaz que saudade bateu agora. Mataram o Mineirão a verdade é essa. Mas essas lembranças que tivemos comnossos times filho da puta nenhum rouba isso. PNC do Aécio e Anastasia!
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